O Pará ultrapassa 430 mil casos de Covid-19
Um Dia Mundial da Saúde marcado por desigualdades raciais
08/04/2021
Ana Cristina Viana Campos
Coordenadora LOVES/Unifesspa
Dia 07 de abril comemoramos o Dia Mundial da Saúde, mas no Brasil, as notícias ainda não são boas. O atraso na vacinação, a falta de planejamento e gestão em saúde para enfrentar a pandemia contribuíram para os péssimos resultados vistos no mês de março e se repetindo em abril.
No mesmo dia, em suas redes sociais, a SESPA confirmou mais 224 novos casos e 46 óbitos cadastrados hoje e que ocorreram nos últimos sete dias. Em relação à subnotificação das prefeituras, confirmaram-se mais 2.532 casos e 49 óbitos ocorridos em dias anteriores. Agora são 431.636 casos e 10.975 óbitos no Pará.
Nesta semana, o LOVES apresenta uma análise por raça/cor da pele. A maioria dos casos de Covid-19 no Pará ocorreram entre pessoas que se declararam pardas (53,9%). Infelizmente, em 134.655 (31,2%) dos casos não há esta informação.
Comparando-se o número de casos por sexo e idade para cada grupo de raça/cor da pele, observou-se diferenças estaticamente significativas (p=0,000). Mais casos de Covid-19 foram registrados entre mulheres adultas quando comparado aos homens entre pessoas que se declararam amarelas, pardas e brancas. A distribuição entre os sexos é mais equilibrada entre indígenas, e entre pessoas que se declararam pretas e sem informação de raça, o número de casos entre homens é maior especialmente entre os mais adultos jovens.
Com quase 11 mil óbitos pro Covid-19, a letalidade no Pará permanece estável e alta (2,5%). O número de óbitos é maior entre idosos de ambos os sexos para todos os grupos de raça/cor de pele.
Entretanto, a letalidade é maior entre homens idosos quando comparado às mulheres idosas (p=0,000) e aos homens com menos de 60 anos (p=0,000) entre todos os grupos, exceto entre pessoas que se declararam amarelas. Quando comparado às mulheres idosas, a letalidade é 1,16 e 1,17 vezes maior entre homens idosos que se declararam indígenas e pretos, respectivamente.
Complementar-me utilizou-se o modelo de árvore de decisão apenas para ilustrar e investigar as diferenças raciais em relação ao número de óbitos por sexo e idade. No primeiro nó (“galho da árvore”), observamos que a letalidade de Covid-19 entre mulheres (2,5%) é um pouco maior do que o sexo masculino (2,6%), portanto não há diferenças estaticamente significativas. Por outro lado, a letalidade entre pessoas idosas de ambos os sexos é maior entre pretas (10%) e brancas/sem informação/outras (12%).
Analisando o perfil da letalidade de Covid-19, resumida e didaticamente, tem-se que 2,5% dos óbitos ocorreram entre homens, 12,6% entre mulheres idosas, e 12,7% e 12,6% entre idosos brancos/sem informação e idosas brancas/sem informação/outras, respectivamente.
A aparente maior letalidade entre pessoas brancas deve ser interpretada com cautela, uma vez que a própria árvore de decisão agregou os casos sem informação de raça/outras no mesmo nó. Além disso, o número de casos entre pessoas que se declararam pretas é duas vezes menor, e a letalidade é apenas 20% menor.
Portanto, o Laboratório e Observatório de Vigilância & Epidemiologia Social – LOVES da Unifesspa tem dois alertas importantes: 1) o alto percentual de casos sem informação de raça/cor da pele prejudica a análise dos dados e cria agrupamentos socialmente cada vez mais desiguais da doença e 2) o número de casos entre pessoas que se declararam pretas é menor, mas a letalidade é muito alta, especialmente entre idosos.
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