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A Covid-19 entre profissionais de saúde e as desigualdades de gênero

Publicado: Quinta, 18 de Março de 2021, 12h07 | Última atualização em Quinta, 18 de Março de 2021, 12h07

Pará ultrapassa 18 mil casos entre profissionais de saúde

19/03/2021

 

Ana Cristina Viana Campos

Coordenadora LOVES/Unifesspa

 

Liliane Nascimento

Coordenadora MASA/UFPA

O Laboratório e Observatório de Vigilância & Epidemiologia Social – LOVES e o Laboratório de Monitoramento e Avaliação em Saúde – MASA analisaram os dados da Covid-19 no Pará até ontem, dia 18, quando o estado ultrapassou 18 mil casos entre profissionais de saúde. Os dados foram extraídos no site mantido pela SESPA para atualização diária.

Enquanto a população segue desrespeitando as medidas coletivas de proteção contra o novo coronavírus, mais profissionais de saúde tem adoecido. Atualmente são 18.471 casos, ou seja, 4,8% dos casos confirmados no estado. Em outubro de 2020, eram 15.332 casos confirmados de Covid-19, portanto, em 5 meses houve aumento de 20% de casos entre profissionais de saúde.

Dentre os 10 municípios com maior número de casos de Covid-19 entre profissionais de saúde, destacam-se Belém, Ananindeua e Parauapebas com 5.102 (27%), 1.019 (5,5%) e 804 (4,4%), respectivamente.

Entre 20 e 69 anos, observa-se que o número de casos de Covid-19 entre mulheres é duas vezes maior do que entre homens na mesma idade. Esta situação só se iguala apenas entre os profissionais com mais de 70 anos. Considerando que o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos, expressando e dando significado às relações de poder.

Figura 1 18032021Revisitando a história da humanidade, as práticas de cuidado apresentam-se associadas ao sexo feminino delimitando o seu lugar social. Os casos serem entre profissionais mulheres demonstram marcadamente a questão de gênero na assistência à saúde. Ser mulher significa ocupar espaços de cuidado no âmbito do trabalho e do cotidiano doméstico, podendo implicar em maior exposição e consequentemente maior risco de contágio.

Dos 65 casos sem informação de idade, 45 (69,2%) eram do sexo feminino. Por outro lado, chama a atenção o registro de 163 e 126 casos entre crianças de 0 a 9 anos e 10 a 19 anos marcados no banco de dados da SESPA como profissionais de saúde. Esse é um erro que atrapalha a análise dos dados e coloca em risco a credibilidade da informação fornecida à população.

Justamente por isso, enfatizamos a importância da vigilância epidemiológica no manejo e processamento dos dados, com checagem de cada ficha e planilha na rede de custódia tripartite já comentadas pelo LOVES e MASA em diferentes oportunidades.

 

 

figura 2 18032021Na distribuição dos casos de Covid-19 por raça/cor de pele destacamos que 52,0% são pardos, 11,7% brancos, 3,8% pretos, 1,2% amarelos e 0,4% indígenas. É importante refletirmos que esses percentuais, em uma análise bruta, podem indicar a distribuição percentual da quantidade real de profissionais de saúde por raça. Apesar da escassez de estudos nesta temática, a taxa composta de subutilização da força de trabalho nas regiões Norte e Nordeste apresentaram os piores resultados entre as pessoas pretas ou pardas de ambos os sexos (IBGE, 2019, p.2).

Na análise racial por gênero, há cerca de duas vezes mais casos de Covid-19 entre mulheres de todas as raças/cor de pele quando comparado aos homens, com exceção entre indígenas onde esse percentual é 40% maior entre homens. Essas diferenças são estaticamente significativas, mas devem ser interpretadas com cautela, pois o percentual de casos sem informação sobre raça/cor de pele é alto (30,9%).

A variável cor tem sua relação com o comportamento de diversos agravos e se constitui um espaço de debate da saúde coletiva na organização e sistematização de dados. Maiores análises precisam investigar essa relação com o covid-19, bem como o incentivo e cobrança ao correto preenchimento das notificações, observa-se um grande percentual de sem informação. Destacamos que desde 2017, os indicadores e dados coletados pelos serviços públicos de saúde devem conter informações sobre cor/raça do usuário do Sistema Único de Saúde (SUS), a partir da autodeclaração do paciente, com o intuito de abastecer os sistemas nacionais de informações, sendo um deles o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM). A obrigatoriedade da medida se expande também aos serviços de saúde conveniados ou contratados pelo SUS.

figura 3 18032021Até o momento são 123 (0,7%) mortes por Covid-19 entre profissionais de saúde no Pará, porém a relação de gênero se inverte, pois 81 (61,4%) mortes ocorreram entre homens. Na análise da faixa etária o número de mortes é ainda maior do sexo masculino entre 50 e 80 anos quando comparado ao sexo feminino (p=0,000).  Campos e Leitão (2021) evidenciaram que apesar de a maioria dos profissionais serem mulheres, o risco de morte entre homens mais jovens pode ser mais de 50 vezes maior que mulheres mais velhas.

Portanto, o LOVES e MASA alertam para as boas práticas e manutenção dos protocolos de enfrentamento ao COVID-19 por todos os profissionais e principalmente que as relações de gênero sejam consideradas no planejamento e processo de trabalho em saúde. Ademais fica evidente a necessidade da acurácia em toda a cadeia de custódia dos dados, da origem a sistematização, destacando que se constituem patrimônio de informação e subsidio a analises e tomadas de decisão.

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