Envelhecimento e Covid-19 no Pará: salvem os idosos

Por

Ana Cristina Viana Campos

Coordenadora do Laboratório e Observatório de Vigilância & Epidemiologia Social (Unifesspa)

Lilian Viana Freire

13ª Promotora de Justiça Titular de Justiça de Direitos Humanos, Órfãos, Interditos, Incapazes, Pessoas com Deficiência e Idosos (MPPA)

Mayanna Silva Souza Queiroz

6ª Promotora de Justiça Titular da Promotoria da Saúde, Direitos Constitucionais e Educação (MPPA)

No dia 10 de fevereiro, o LOVES em parceria com a Promotoria da Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa de Marabá publicou uma matéria sobre a Covid-19 e a urgência da vacinação da população idosa de Marabá.

Segundo os dados da SESPA, no chamado Vacinômetro, a cobertura de vacinação entre idosos institucionalizados é satisfatória (77% já na 2ª dose da vacina). Por outro lado, o mês está terminando e apenas 34% dos idosos com 80 anos e mais receberam a 1ª dose e 8,2% a 2ª dose. Em Marabá, por exemplo, a situação é ainda pior pois 43 idosos de instituição de longa permanência e 641 idosos acima de 85 anos foram vacinados.

Sabendo-se que a letalidade de Covid-19 é alta no estado (2,3%), importa saber que na população idosa ela é ainda maior, como trataremos na matéria de hoje. Os dados foram coletados diretamente no site da SESPA.

Ainda que a maioria dos casos tenha ocorrido entre adultos com idade entre 30 e 59 anos de ambos os sexos (56,0%), 25.310 (15,2%) e 27.087 (14,2%) casos foram registrados entre homens e mulheres com 60 anos e mais, respectivamente (Figura 1).

Figura 1. Pirâmide populacional para distribuição de casos de Covid-19 por sexo e idade no Pará.

Observando-se os gráficos de distribuição de óbitos por Covid-19 no Pará por sexo e idade (Figuras 2 e 3), é nítido a relação gradiente entre idade e número de óbitos, ou seja, quanto maior a faixa etária, maior a proporção de óbitos registrados com diferenças estaticamente significativas (p=0,000).

Figura 2. Distribuição dos óbitos por Covid-19 entre sexo e faixa etária no Pará.

Figura 3. Pirâmide populacional para distribuição de óbitos de Covid-19 por sexo e idade no Pará.

Na tabela 2 e figuras 4 e 5, comparando-se os idosos com todas as demais faixas etárias, observou-se que 73,2% e 74,5% dos óbitos no Pará ocorreram entre homens e mulheres com mais de 60 anos de idade. Isso quer dizer também que a chance de óbito entre idosos é 15 vezes maior quando comparados aos grupos não idosos (0 a 59 anos). E essa chance é ainda maior no sexo feminino, ou seja, há 17 vezes mais chance de uma idosa falecer devido a Covid-19 quando comparada às demais mulheres.

Tabela 2. Distribuição dos óbitos de Covid-19 entre sexo comparando-se idosos e não idosos no Pará.

Figura 4. Distribuição de óbitos de Covid-19 entre homens e mulheres comparando-se idosos e não idosos no Pará.

Os gráficos acima demonstram que o grupo dos idosos no Estado do Pará é aquele hoje que é severamente atingido pela Covid-19 e invariavelmente é a parcela da população que mais apresenta sintomas graves da doença, que ocupa os leitos hospitalares públicos e privados, e, infelizmente é aquele que mais morre.

Para corroborar nossa preocupação e alerta sobre maior risco para doenças graves e morte por COVID-19 na população idosa, destaca-se o estudo de Chen et al. (2021) que investigaram a vulnerabilidade aos desfechos graves do COVID-19 em idosos possibilidades que podem estar relacionados a desregulação da função imunológica devido ao envelhecimento. Sabendo-se que a doença é altamente heterogênea, desde ser assintomático e leve até grave e causar morte e que idade, sexo e presença de doenças crônicas são determinantes fundamentais da gravidade e progressão da doença, é imprescindível que todos os idosos sejam vacinados com maior rapidez.

Voltando ao exemplo concreto, no Município de Marabá a história se repete. Segundo publicações da prefeitura municipal, do total de 281 óbitos por Covid-19, a grande maioria (208 óbitos, ou seja, 74%) ocorreram entre as pessoas idosas (acima de 60 anos). Por outro lado, do total de 5.492 doses da vacina para Covid-19, apenas 614 doses (11%) foram destinadas à população idosa. Portanto, considerando-se que a letalidade da Covid-19 é muito maior na população idosa, no que pese a prioridade absoluta garantida às pessoas idosas pelo Estatuto do Idoso e ainda o Plano Nacional de Vacinação dispor ser esta população ser prioritária à vacinação da Covid-19, é imperativo que a população idosa seja vacinada prioritariamente.